Nascem mais meninos que meninas no mundo, mas um novo estudo descobriu que quanto mais próximo do equador, menor essa diferença se torna. Ninguém sabe a razão. A distorção da proporção sexual no nascimento é conhecida há mais de cem anos, e pesquisadores descobriram uma grande variedade de fatores sociais, econômicos e biológicos correlacionados a ela - guerra, crise econômica, idade, alimentação, aborto seletivo ou infanticídio, entre outros. Isolar a contribuição de uma única variável cultural ou política se mostrou um exercício infinitamente complicado.
Mas a latitude é um fenômeno natural, independente de fatores culturais ou econômicos. Para avaliar seu efeito, Kristen J. Navara, da Universidade da Geórgia, usou a latitude da capital de 202 países, além de 10 anos de dados sobre proporção sexual no nascimento e variações anuais da duração do dia e da temperatura.
Para estimar a situação sócio-econômica de cada país, Navara utilizou estatísticas sobre desemprego e produto interno bruto. Ela também calculou um índice de instabilidade política usando uma análise sobre Estados falidos e conflitos, publicada pelo Fund for Peace, uma organização de pesquisa que combina 12 indicadores sociais, econômicos e políticos para estimar a estabilidade relativa dos países do mundo.
Depois, Navara realizou uma análise estatística para determinar quais variáveis afetavam a proporção de sexos. O resultado apareceu em 1º de abril na edição virtual da Biology Letters. O número de nascimentos masculinos não estava relacionado a fatores políticos e sócio-econômicos, mas havia uma correlação significativa em favor de homens quando se consideravam as variáveis latitude e clima. Países africanos produziam as proporções mais baixas - 50,7% de meninos - e países europeus e asiáticos as mais altas, com 51,4%.
O efeito da latitude, segundo descobriu Navara, persistiu ao longo de amplas variações de estilo de vida e status sócio-econômico. Havia grandes diferenças na proporção sexual entre regiões tropicais até 23 graus do equador e regiões temperadas de 23 a 50 graus norte ou sul, mas nenhuma diferença entre as regiões temperadas e as subárticas a norte de 50 graus. A população vivendo a sul de 50 graus era pequena demais para ser incluída na análise.
A correlação com a latitude permaneceu intacta mesmo com a exclusão de dados de países africanos e asiáticos que praticam o aborto ou o assassinato de bebês do sexo feminino. Portanto, a seleção sexual pelos pais antes ou no nascimento não explica a correlação. Um especialista não envolvido no estudo questiona a validade da técnica estatística de Navara.
"Não há dúvidas de que a vasta maioria das pessoas nos trópicos vive em sociedades relativamente pobres ou em situação de tensão", disse Ralph Catalano, professor de saúde pública da Universidade da Califórnia, Berkeley. "Se você fizer um controle pelas dificuldades da pobreza, quem sobra para se aplicar o teste?"
Navara defende sua análise. "Análises estatísticas envolvendo populações humanas são sempre traiçoeiras", ela disse, "mas as análises usadas aqui são robustas e não eliminam qualquer variação que veríamos nessas populações".
Existem algumas explicações possíveis, mas nenhuma completamente satisfatória. Pode ser que haja um valor de sobrevivência na produção de mais meninas em regiões mais quentes, mas não está claro o que ele seria. Talvez diferenças genéticas ou raciais possam explicar a proporção, mas como a correlação persiste em tantas populações diferentes isso parece improvável. Hamsters, camundongos e arganazes-do-prado produzem mais filhotes machos durante dias curtos ou climas mais frios, mas as razões disso são tão misteriosas quanto as do fenômeno humano.
Ninguém ao menos sabe se a proporção sexual de humanos é desequilibrada antes ou depois da concepção. Poderia a qualidade do esperma em diferentes temperaturas causar a variação no momento da concepção? Ou existe algum evento durante a gestação em temperaturas mais quentes que fazem com que mais fetos masculinos, ou menos femininos, abortem espontaneamente?
"Há a possibilidade de que os humanos estejam respondendo a fatores que foram programados há muito tempo - não culturais ou sócio-econômicos, mas climáticos e latitudinais", disse Navara. "O interessante é que talvez estejamos vendo algo que confirma nossa ancestralidade animal."
Tradução: Amy Traduções
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