Esclarecendo alguns temas importantes sobre mudanças climáticas:
1) A magnitude relativa entre ação solar e a força antropogênica sobre o clima
Atualmente temos um entendimento muito melhor dos papéis relativos desses fatores. Para começar, agora temos décadas de medições solares de alta qualidade, que mostram que não houve mudanças significativas na irradiação solar desde 1979. Em longo prazo, modelos sugerem que a influência solar desde a época pré-industrial representa 10% de toda a influência antropogênica. Além disso, o padrão observado de mudanças na temperatura – aquecendo toda a troposfera (os 10 km de atmosfera mais próximos ao solo), mas resfriando a camada acima, a estratosfera – é inconsistente com a força do Sol, mas consistente com os gases de efeito estufa (e outras forças induzidas pelo homem). Alguns cientistas sugeriram que os raios cósmicos poderiam afetar as nuvens. Entretanto, isso foi baseado em registros limitados. Essa sugestão não se sustentou ao ser testada com dados adicionais e, além disso, seus mecanismos físicos permanecem meramente especulativos.
2) Registros de aquecimento na superfície e na troposfera
O terceiro relatório de avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), de 2001, mostra uma aparente combinação mal-sucedida entre o registro instrumental da temperatura superficial (que indicava um aquecimento significativo nas ultimas décadas devido ao impacto humano) e dos registros dos balões meteorológicos e satélites (que registravam pouco do aquecimento esperado). Essa discrepância agora já foi amplamente resolvida – e um aquecimento consistente foi identificado entre a superfície e a atmosfera –, com a ajuda de vários estudos novos dos registros de temperatura atmosférica que usaram balões e satélites. As novas pesquisas têm corrigido tendências e erros significativos nos dados, como os causados pela deterioração dos satélites em órbita.
3) O papel do vapor de água nas mudanças climáticas
Apesar de o vapor de água ser o gás de efeito estufa mais forte, sua emissão pelos humanos é pequena, e sabe-se que sua importância para a mudança climática tende a aumentar de acordo com a maneira como responde às mudanças de temperatura. Em conjunto com outros fatores, como o gás carbônico, este último produz uma atmosfera mais quente, que pode prender mais vapor de água, ampliando assim o aquecimento. Esse efeito é crucial para se determinar a magnitude geral da mudança climática esperada. O último relatório do IPCC reafirma esses aspectos de importância fundamental. Em particular, existem novas observações mostrando que o aumento do vapor de água foi de acordo com o previsto.
4) Agora o aquecimento é claramente identificável no oceano
O aquecimento não foi medido apenas na superfície da Terra, mas também nos oceanos. Isso enfatiza que o efeito da “ilha quente” urbana, mesmo sendo real, é apenas local, já que não está presente nos registros coletados nas águas. De fato, as diferenças entre as médias registradas nos hemisférios e as médias globais são insignificantes. Os registros oceânicos, cada vez mais numerosos e melhores, demonstram que uma grande quantidade de calor está sendo absorvida pelos oceanos. Isso indica que o orçamento energético do nosso planeta tem estourado justamente como esperado: com o aumento da produção de gases de efeito estufa.
5) A nova avaliação para o futuro dos mares melhora
Estimativas para o aumento do nível dos mares devido à expansão térmica estão sendo obtidas com modelos climáticos que incluem uma simulação muito mais realista da circulação dos oceanos, comparados aos modelos mais simples, usados no relatório de 2001. Entretanto, o interessante é que as principais estimativas a respeito da elevação do nível do mar com o aumento de temperatura global permanecem em 10% das estimativas anteriores (quando ajustadas para o mesmo período de tempo). A abrangência do modelo, entretanto, agora é menor (tanto no limite superior como inferior) devido às novas restrições nas contribuições do derretimento de geleiras e calotas polares, além de uma consideração mais cuidadosa das correlações entre as incertezas em diferentes termos. No entanto, o relatório não dá nenhum motivo para nos preocuparmos menos com o aumento do nível dos mares no futuro. Observações recentes mostram evidências quebra do gelo na periferia da Groenlândia mais rápido do que se esperava, assim como dos mantos de gelo da Antártida, que indicam processos de descarga de placas de gelo nos oceanos – e que não foram incluídos nos modelos atuais. Desse modo, apesar das incertezas sobre as questões abordadas pelos modelos terem diminuído, temos que lidar com outros fatores que ainda não existem em modelos de previsão, nem na literatura especializada.
O processo de avaliação do IPCC
O IPCC foi criado pelos governos em 1988 para fornecer informações técnicas e científicas sobre as mudanças climáticas. O processo usado para produzir essas avaliações é criado para assegurar alta credibilidade tanto nas comunidades científica como política. O envolvimento do governo para prover mandatos para o trabalho em seu estágio inicial, participar secundariamente em revisões, garantir que os gestores de políticas públicas compreendam as principais descobertas no estágio final.
Avaliações prévias foram publicadas em 1990, 1995 e 2001. Existem três “grupos de trabalho”. O Grupo 1 avalia os aspectos científicos do sistema climático e de mudança do clima; o Grupo 2 avalia os efeitos das mudanças climáticas sobre a natureza e a sociedade, e o Grupo 3 discute os métodos de adaptação e mitigação das mudanças climáticas.
Os principais autores do relatório são nomeados pelo governo, e selecionados com base em evidências de participação ativa em pesquisas relevantes, considerando também a necessidade de pontos de vista equilibrados, assim como localização geográfica, sexo e idade. As regras do IPCC são claras e o conteúdo dos capítulos é controlado pelos autores principais o tempo todo. Eles devem avaliar tecnicamente a literatura relevante disponível e fornecer um resumo equilibrado tanto do estado atual do conhecimento científico quanto das incertezas.
A avaliação dos autores é comparada com a visão da comunidade científica de especialistas por meio de um processo abrangente de examinação. Mais de 600 especialistas fornecem mais de 30 mil comentários sobre os primeiros dois rascunhos, e editores independentes garantem que todos os comentários sejam considerados de maneira satisfatória. Dessa forma, apesar de os autores serem responsáveis pelo relatório final, o processo garante que seja firmemente baseado na literatura científica e que leve em conta os pontos de vista dos especialistas. Há um prazo final para incluir trabalhos científicos mais recentes, escolhidos para assegurar a total transparência do processo de examinação. O prazo final foi 24 de julho de 2006.
A finalização do resumo para os gestores de políticas públicas é feita com os delegados do governo em um processo de aprovação “linha a linha”, para assegurar que a linguagem usada para abordar os resultados principais do relatório sejam claras para os gestores de políticas públicas. Os cientistas ficam presentes para garantir a precisão e a consistência científicas do relatório. Quaisquer mudanças no resumo devem permanecer consistentes com os outros capítulos e não podem alterar a avaliação dos autores em relação aos níveis de probabilidade ou certeza. Por exemplo, se o resumo afirma que o aquecimento que vem ocorrendo desde a metade do século XX “é muito provavelmente causada por um aumento observado das concentrações de gases de efeito estufa induzido pelo homem”, o termo “muito provavelmente” expressa a visão final dos autores. Assim, não pode ser alterado no processo de aprovação do governo para um termo mais forte ou mais suave.
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